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Expectativas para os Mercados Financeiros

2021.7.19 Vítor Ribeiro, CFA

PRINCIPAIS DADOS E INDICADORES A ANALISAR

Definir o conjunto de dados e indicadores a analisar é uma tarefa essencial para a construção de uma carteira de investimento adequada aos objetivos e preferências de cada investidor.

No artigo sobre economia e mercados financeiros analisamos a correlação e causalidade e de como ambos influenciam as expectativas de retorno e risco associadas à carteira de investimento. Agora, o investidor consciente e prudente deve reunir o conjunto de expectativas para os mercados financeiros para as diversas classes de ativo da sua carteira de investimento.

 

AS CLASSES DE ATIVO DE UM PORTEFÓLIO

Na gestão de património, uma classe de ativos é um conjunto de investimentos que têm características semelhantes, que se comportam de maneira semelhante no mercado e que têm exposição aos mesmos fatores económicos e financeiros.

Esses fatores podem ser, por exemplo, o crescimento, a inflação, o trabalho, os recursos na naturais, os edifícios e terrenos, as infraestruturas e até mesmo os aspetos comportamentais e pessoais de cada investidor.

Assim, na construção de portefólio podemos ter como classes de ativo as ações, obrigações e liquidez, que são as principais, mas também o imobiliário, matérias-primas (commodities), private equity e venture capital, derivados, como futuros e opções, e até criptomoedas.

Enquanto financial advisors, na nossa abordagem, também consideramos como classe de ativos o capital humano, conforme explicamos no artigo Património individual: uma abordagem comportamental.

Uma das principais características de uma classe de ativo é ter uma baixa correlação (ou até negativa) com as restantes classes de ativo do portefólio. Desta forma, conseguimos construir uma carteira mais diversificada e mais ajustada em termos risco e retorno.

 

OS PRINCIPAIS INDICADORES A SELECIONAR

Após a seleção das classes de ativo que vão fazer parte da estratégia de alocação de ativos, passamos aos indicadores económicos e de mercado que vão compor o relatório das expectativas para os mercados financeiros.

Podemos seguir várias orientações, sendo que o principal critério deverá ser a política de investimento de cada investidor, com os seus objetivos e preferências a determinarem o conjunto de indicados a analisar.

Temos de especificar o horizonte temporal da nossa análise e os resultados que pretendemos alcançar, nomeadamente as expectativas ao nível do retorno, risco ou outros fatores que consideremos importantes no plano financeiro.

Existem várias formas de agrupar os diversos indicadores. De seguida apresentamos uma possibilidade que nos parece ajustada ao teor deste artigo.

 

  • Crescimento: tendências e ciclos: Neste grupo de indicadores olhamos para o PIB nominal e real, o PIB per capita, a produtividade e alguns indicadores cíclicos e avançados. O objetivo é definirmos o ciclo económico atual e o esperado. De uma forma resumida e teórica podemos identificar estas tendências nas seguintes fases:
     

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  • População, emprego e desemprego: Aqui os indicadores mais importantes são a população da região a analisar, o nível de emprego, força de trabalho e a taxa de desemprego.
  • Indicadores fiscais: Ao nível fiscal é importante analisar o orçamento do governo (défice ou superavit), a dívida pública e a dívida nacional.
  • Consumidores e Balança de pagamentos: O rendimento disponível, consumo privado, taxa de poupança e os indicadores de confiança dos consumidores.
    Importação e exportação de bens e serviços. Dívida externa, balança de conta corrente, reservas.
  • Investimento e poupança: Investimento projetado para a economia, inventários. Taxa de poupança na economia nacional.
  • Indústria e comércio: Condições para os negócios, ambiente económico. Produção industrial e nível de encomendas. Capacidade instalada e níveis de utilização.
    Algumas indústrias são mais importantes do que outras. Destaca-se a evolução da indústria automóvel, a construção de casas e as vendas a retalho, por exemplo.  O índice de surpresa económica do Citigroup é um dos indicadores de sentimento utilizados neste grupo mais direcionado ao futuro próximo da economia.
     

  • Taxas de câmbio: Evolução das taxas de câmbio face às principais moedas. Nível de controlo da flutuação cambial. Taxas de câmbio reais, efetivas e competitividade.
  • Mercados monetários e mercados financeiros: Este grupo de indicadores é especialmente importante face à forte intervenção dos bancos centrais. A política monetária é um instrumento poderoso e nesta crise foi especialmente notada. Alguns dos indicadores fundamentais são: os indicadores de expansão monetária (M1, M2, etc), liquidez no mercado. Também se analisa o nível de financiamento dos bancos e o crédito ao consumo.
    As taxas de juro do mercado monetário, das obrigações. A curva de rendimento. Análise dos principais índices bolsistas. A avaliação do mercado acionista pode ser muito diferente no curto e no longo prazo.
    Os indicadores de sentimento também desempenham um papel de antecipação da tendência do mercado.
    Neste segmento destacamos o Fear and Greed index, disponibilizado pela CNN Business:

  • Preços e salários (rendimentos): Índices de preços do consumidor. Preço do petróleo e do ouro. Preços das commodities. Salários e custos do trabalho.

 

INDICADORES ATRASADOS, COINCIDENTES E INDICADORES AVANÇADOS

Os indicadores atrasados (lagging indicators), como a variação do PIB, por exemplo, informa os decisores e analistas sobre o desempenho passado de um ativo, região ou negócio. Quando o indicador é apresentado já a economia poderá estar noutra tendência. Por isso, apesar de ser relativamente fácil de produzir, são indicadores estáticos.

Pelo contrário, os indicadores avançados (leading indicators), informam os analistas e investidores sobre as expectativas quanto a um ativo ou negócio e como poderemos obter os resultados desejados. São indicadores dinâmicos, mas difíceis de produzir devida à incerteza e sensibilidade das variáveis em análise.

No caso dos indicadores coincidentes, estes apresentam os resultados atuais do estado da economia ou de um ativo em análise.

O mercado de trabalho, por exemplo, tem indicadores para ambos os casos:

- Os pedidos iniciais de subsídio de desemprego é um indicador avançado

- O anúncio da folha de pagamentos salarial é conhecido por ser um indicador coincidente

- A taxa de desemprego é um exemplo de um indicador atrasado.

 

FONTES DE INFORMAÇÃO

Este mosaico de informação está disperso em várias fontes e nem sempre é fácil organizar ou produzir todos estes indicadores.

As plataformas profissionais como a Bloomberg ou a Refinitiv não são acessíveis aos pequenos investidores, ou aos do-it-yourself investors, devido ao impacto do custo das mesmas e também devido ao grau de especialização e conhecimento que requerem.

Por outro lado, há muitas fontes cuja qualidade deixa muito a desejar.

O recurso a um financial advisor ou a research de especialistas e outlooks de mercado de instituições, organizações e sociedades gestoras de património são algumas das soluções possíveis.

Há todo um conjunto de instituições que produzem alguns dos indicadores necessários e que divulguem no seu website os respetivos estudos e projeções. Destacamos as seguintes:

FMI, OCDE, FED, ECB, Eurostat, BOJ, BIS, BOE, NBER, Banco Mundial, entre muitos outros para além das grandes gestoras de património como a Vanguard ou Blackrock.

Para produzir a informação que necessitamos também são utilizadas técnicas e modelos financeiros, estatísticos e econométricos para projetar os indicadores no horizonte temporal definido na nossa política de investimento.

 

PRODUÇÃO DO RELATÓRIO E MONITORIZAÇÃO

O relatório tem como objetivo obtermos uma visão para o mercado de capitais e para as classes de ativo definidas. Devemos interpretar os sinais dados, o ambiente e as tendências que os vários indicadores produzem.

É importante que seja periodicamente monitorizado e ajustado perante alterações drásticas nas expectativas ou na própria política de investimento do investidor.

Vivemos numa fase de uma certa complacência e uma falsa segurança de que está tudo bem e a economia vai recuperar de forma forte e rápida. Perante este sentimento devemos manter uma atitude prudente e o foco no futuro de longo prazo para que a turbulência instantânea se traduza num impacto limitado na carteira de investimento.

Vítor Ribeiro, CFA
Vítor Ribeiro, CFA

Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.

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