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Preferências e restrições do investidor na IPS

2021.9.24 Vítor Ribeiro, CFA

As preferências e restrições do investidor fazem parte do processo de construção da Declaração da Política de Investimento ou IPS (Investment Policy Statement).

Os investidores devem ter em consideração as restrições, preferências e constrangimentos que afetam o plano de investimento. Tais restrições podem derivar de imperativos legais ou regulatórios ou políticas individuais e podem mesmo estar ligadas a riscos específicos que são relevantes para o investidor.

 

Restrições na Declaração da Política de Investimento ou IPS

Do lado das restrições destacam-se: 

  • Liquidez: relacionada com necessidades de liquidez no curto e médio prazo, como um fundo de emergência ou um objetivo específico a curto prazo.
  • Períodos de avaliação da performance: como por exemplo um relatório trimestral para monitorizar a evolução do portefólio e do grau de atingimento dos objetivos.
  • Horizonte temporal de investimento: podem ser definidos um ou vários períodos, sendo o tempo um dos principais atributos de um plano de investimento e um dos fatores críticos do sucesso do plano.
  • Considerações fiscais: a política fiscal pode comprometer o retorno objetivo. Deve ser conhecida a situação fiscal dos investidores e qual o impacto fiscal de cada decisão de investimento na evolução da carteira.
  • Restrições legais:  regulação tem vindo a aumentar. Torna-se fundamental enquadrar a carteira no contexto regulatório e o cumprimento inequívoco do respetivo normativo. Por exemplo, na questão da adequação dos instrumentos e ativos financeiros à carteira do investidor.
  • Circunstâncias únicas: relacionadas com o investidor ou com a estratégia de investimento como restrições ao investimento em determinados ativos, investimento segundo fatores ESG, restrições à exposição a diferentes moedas, alavancagem da carteira, entre outros. 

 

Preferências na Declaração da Política de Investimento ou IPS

No conjunto de preferências da IPS identificamos as relacionadas à alocação dos ativos, as medidas de retorno e risco e o processo de rebalanceamento da carteira em relação às alocações alvo.

Uma política de alocação de ativos deve designar alocações alvo para cada classe de ativo, com intervalos permitidos em torno desses alvos. Por exemplo, se o peso das ações europeias for de 10% no total da carteira, deve também ficar definido a possibilidade de a alocação andar acima ou abaixo desse alvo, dentro de um determinado intervalo. A IPS deve estabelecer todas as classes de ativos permitidas nas quais o investidor vai investir. Dentro de cada classe de ativos podem ser identificadas determinadas subclasses ou temas subordinados à classe principal.

A avaliação de desempenho, ao nível do retorno e risco, deve ser também definida nesta fase. A expectativa de retorno da carteira, ponderada de acordo com as alocações de metas estratégicas e o próprio perfil de risco e de investimento, pode ser construída e comparada com o desempenho real da carteira. Da mesma forma, algumas intuições sobre as exposições ao risco podem ser desenvolvidas a partir da avaliação de desvios das alocações alvo e violações de faixas aceitáveis de desvio. 

Em relação às métricas de desempenho, devem ser especificadas as medidas de avaliação do risco (como o desvio padrão ou a perda máxima) e do retorno (retorno ponderado pelo tempo ou pelo dinheiro investido) e as medidas de retorno ajustadas pelo risco.

Variações aceitáveis fora dos limites das diversas classes de ativo do portefólio devem ser documentadas na IPS. O mecanismo de rebalanceamento pode ser integrado com o sistema de gestão de risco e pode ser definido por calendário (por exemplo, anualmente) ou sempre que há um desvio acima do intervalo de controlo de cada classe de ativos ou ainda sempre que há um reforço da carteira de investimento.

Por isso, do lado do financial advisor, não há alternativa: deve seguir sempre as preferências e restrições do investidor.

 

Números e narrativa

Mais do que incluir números ou considerações estratégicas complexas, a IPS deve ajudar-nos a compreender e aceitar o futuro, tal como refere Tim Harford (economista e jornalista no Financial Times, com uma coluna de opinião chamada “O economista disfarçado”) no livro “O que os números escondem”.

Os números e as narrativas que criamos são muitas vezes utilizadas para confundir e criar ilusões. A IPS, com a inclusão da filosofia de investimento alinhada com as preferências e restrições do investidor, permite-nos um certo ceticismo positivo, como identifica uma citação perfeita do livro: “O realismo ingénuo é uma ilusão poderosa”.

Devemos utilizar os dados, as estatísticas, a informação para compreender melhor o mercado financeiro e tomar melhores decisões. Mas não vamos conseguir controlá-lo. Todos os dias vamos ter pequenas surpresas, volatilidade e algumas vezes vamos mesmo ver um cisne negro, tal como descreve Nassim Nicholas Taleb. Porque uma coisa é certa, as más notícias surgem de repente, enquanto as boas aparecem devagar, vão ganhando forma.

Apesar de neste momento vigorar o TINA (there is no alternative ou não há alternativa), devemos rejeitar esta ideia. Há sempre alternativa. O mundo não é binário, nem uma fatalidade objetiva, com uma resposta sim ou não para tudo.

É importante pensarmos criticamente e sermos criativos dentro da lógica individual. Dormir bem à noite é um dos objetivos da IPS. A IPS não é perfeita nem estática, mas ajuda os investidores a não se deixarem influenciar!

Vítor Ribeiro, CFA
Vítor Ribeiro, CFA

Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.

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