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Qual o seu nível de tolerância ao risco financeiro?

2021.4.23 Vítor Ribeiro, CFA

Estruturar o património e o estilo de vida e tomar decisões com base nas várias etapas da vida e na relação entre capital humano e capital financeiro, significa também saber fazer uma boa gestão de risco.

Neste contexto, a gestão de risco é o processo que nos permite antecipar e quantificar o potencial de perdas num determinado plano de vida, financeiro ou não, analisá-lo e tomar as medidas preventivas necessárias para reduzir, atenuar ou transferir os diferentes níveis de risco.

Em sistemas como o nosso, a sustentabilidade da segurança social não está garantida e o apoio à família é frágil. Temos por isso de criar e estabelecer medidas alternativas para prepararmos um futuro mais estável e alinhado com os nossos objetivos.

Como base de análise podemos começar por definir, na generalidade, as diversas fases por que passamos ao longo da vida:

  • Fundação, como base inicial na construção do património
  • Acumulação, fase em que rendimento e despesa aceleram
  • Manutenção, onde a preservação do património é já o objetivo mais importante
  • Distribuição, fase da transferência e utilização do património para viver e manter estilo de vida.

Mas, a tomada de decisão significa sempre um trade-off entre custo e benefício, entre risco e retorno. E por cada decisão tomada teremos de antecipar quais os riscos potenciais para os controlar e gerir e assim ser possível atingirmos os nossos objetivos.

O mercado, por exemplo, é um evento que não conseguimos controlar, apesar de acharmos que sim. Principalmente porque às vezes aparecem os cisnes negros (“The black swan”, como tão bem definiu Nassim Nicholas Thaleb) como esta pandemia da COVID-19.

Mas se tivermos objetivos, se soubermos qual a nossa tolerância ao risco e se tivermos uma visão de longo prazo será mais fácil ultrapassarmos o muro das lamentações.

 

 
 

O RISCO INDIVIDUAL

Em termos individuais estamos expostos a vários riscos, riscos que nos afetam individualmente, mas também, as pessoas dependem de nós, no caso de uma família ou organização: o risco relacionado com o nosso potencial rendimento. No fundo, aquilo que podemos designar de risco financeiro - quando tomamos decisões que colocam em causa o nosso rendimento, a nossa poupança ou até a nossa capacidade de pagar um financiamento. 

Há profissões mais estáveis, outras que exigem maior dinamismo. O potencial de rendimento de longo prazo, essencial para estimarmos a capacidade de poupança e diminuirmos o risco financeiro, está muito dependente desta amplitude. Daquilo que projetamos vir a ganhar e aquilo que efetivamente vamos conseguir.

Depois temos o risco de morte prematura. O seguro de vida é a proteção natural deste risco. Contudo, devemos procurar um valor seguro que permita manter a estabilidade financeira daqueles que dependem de nós.

Este é um problema muitas vezes menosprezado e que pode colocar em causa o bem-estar familiar devido à falta de planeamento. Repare-se no caso de uma família que depende, em grande parte, do rendimento obtido por um dos seus membros. Por isso, consideramos que o capital humano deve ser visto como uma classe de ativos independente tal a importância no bem-estar financeiro de um indivíduo ou família.

Há também o risco de informação assimétrica, que éo risco relacionado com a literacia financeira, com o risco moral e seleção adversa. Nunca devemos estar em desvantagem quando temos de tomar decisões sobre investimento. Devemos também estar alerta para a informação prestada e o comportamento dos diversos agentes económicos envolvidos no processo.

Outro risco muito comum está relacionado com o risco imobiliário ou habitacional, vulgarmente conhecido como multirriscos. Danos provocados em imóveis podem levar a perdas ou mesmo a destruição e colocando muitas vezes em causa a estabilidade financeira. O mesmo acontece com outros riscos associados a bens materiais como o carro ou outro objeto de valor.

risco de saúde está associado a doença ou eventual acidente.

A boa notícia é que grande parte destes riscos podem ser transferidos para seguros e podem ser antecipados mesmo que não venham a acontecer, não colocando em causa o nosso plano de longo prazo.

Ainda no âmbito do risco individual, gostaríamos de salientar o risco de longevidade. O risco de vivermos mais tempo do que o estimado e não termos património suficiente para manter o estilo de vida e financiar todas as situações inesperadas que podem surgir. 

Por tudo isto, a gestão de risco se torna tão essencial. Parece que esteve sempre lá e já o fazemos intuitivamente. Mas salientamos a importância do risco de morte prematura e o risco de longevidade. De longe os mais difíceis de antecipar e resolver e que estão ligados à poupança e à estruturação de um plano de gestão do património de longo prazo.

 

TOLERÂNCIA AO RISCO – CAPACIDADE E VONTADE PARA TOMAR RISCO

Qual o seu nível de tolerância ao risco?

Para executar o plano financeiro de longo prazo que nos vai ajudar a gerir alguns dos riscos atrás descritos, precisamos de compreender também a nossa tolerância ao risco. Neste caso, referimo-nos aos vários riscos relacionados com investimento: risco de mercado, risco de liquidez, risco taxa de juro, risco de inflação, risco de crédito e de falência, risco país ou político, entre outros.

O risco objetivo de um indivíduo, ou tolerância ao risco, é definido em função da capacidade e da vontade para tomar risco:

  • Quais são os seus objetivos e necessidades financeiras de curto e longo prazo?
  • Quão importante são estes objetivos? Quais as consequências de não serem atingidos?
  • Qual a perda que a carteira de investimento pode suportar antes de colocar em perigo a capacidade para atingir as principais metas de curto e longo prazo?

capacidade para tomar risco é determinada pelos objetivos financeiros tendo em consideração os recursos disponíveis e o tempo para atingir esses objetivos. Se os objetivos financeiros forem relativamente modestos face ao portefólio de investimento, claramente o investidor tem uma elevada capacidade para tomar risco, para acomodar volatilidade e retornos negativos no curto prazo.

Se a carteira de investimento crescer e se o horizonte temporal aumentar, a capacidade para recuperar de quedas intermédias também aumenta. Tudo o resto constante, objetivos de longo prazo permitem ao investidor considerar investimentos mais voláteis, com o correspondente ganho no retorno esperado. 

Veja-se o exemplo do quadro seguinte, com os cálculos do BofA Global Research, onde um investimento a 10 anos no índice americano S&P500 apresenta uma probabilidade de 6% de obtermos uma rentabilidade negativa. Mas o período for 1 ano, a probabilidade já aumenta para 26%.

Objetivos críticos permitem uma menor margem de erro e reduzem a capacidade para acomodar volatilidade. Segurança financeira e capacidade para manter o estilo de vida atual estão entre as maiores prioridades do investidor.

Exemplo de uma capacidade de assumir risco acima da média:

  • Horizonte temporal longo;
  • Bom estado de saúde;
  • Existência de um sistema de saúde universal e de qualidade;
  • Sem dependentes;
  • Retorno necessário do portefólio é baixo face aos ativos e ao património disponível;
  • Outras fontes de rendimento;
  • Flexibilidade de deixar ou não dinheiro para os descendentes ou para outros fins.

Em contraste com a capacidade, a vontade para assumir risco envolve uma avaliação mais subjetiva. Traçar o perfil psicológico é fundamental para estimar a vontade de assumir risco. Se já tiver experienciado situações de grandes perdas e ganhos avultados torna-se mais fácil produzir um debate em relação à tolerância ao risco.

A nível profissional, se exerce uma atividade independente, a tomada de risco está nessa atividade. Demonstra tolerância ao risco na sua atividade porque tem uma sensação de controlo que não tem em outras áreas. Uma política de baixo endividamento e baixa volatilidade também indicam uma abordagem conservadora ao investimento financeiro.

 

CONCLUSÃO

O património e o risco são variáveis dinâmicas. Propomos um plano financeiro de vida para ajudar os investidores a atingirem os seus objetivos, incluindo um rendimento adequado na reforma, através de uma visão holística da situação financeira individual. 

Enfrentamos vários riscos ao longo da vida: podemos ficar doentes, sofrer um acidente, morrer prematuramente ou não ter recursos suficientes para manter o nosso estilo de vida. Adicionalmente, numa perspetiva de investimento, os ativos podem perder valor ou não atingirem o retorno que precisamos.

Estes riscos representam aleatoriedade e podem colocar em causa a nossa independência financeira. Por isso devemos identificá-los, avaliá-los, selecionar o melhor método para os gerir e continuar a monitorizá-los para os ajustamentos que sejam necessários.

Vítor Ribeiro, CFA
Vítor Ribeiro, CFA

Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.

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